09/09/2006

O Planeta Branco
- Outra coisa que vos queria dizer é que, à medida que se forem afastando do Planeta Branco, vocês vão esquecer tudo sobre ele. Vão esquecer mesmo que estiveram aqui e que me viram e falaram comigo.
- Porquê?
- Porque é assim que está escrito: o homem nunca deve saber o que existe depois da vida. Deve viver a vida como uma coisa única e preciosa. Um presente dos deuses.
(…)
São os homens que vivem hoje na Terra que têm o dever de a salvar. Se não forem capazes de o fazer por si, não merecem salvação. Amem a Terra, honrem a vida que receberam!
(…)
Lá fora, a noite estava semeada de milhões de estrelas, planetas, cometas, asteróides nos seus voos loucos, constelações de todos os tamanhos e das mais diferentes formas. Olhou por cima do ombro direito, pela vigia lateral, procurando absurdamente uma luz branca que julgava ter visto algures, mas não se lembrava quando, nem sequer era capaz de dizer se a tinha visto, de facto, ou se apenas a imaginara em sonhos. E, mais uma vez, repetiu baixinho e para si própria a pergunta que tantas vezes fazia, quando estava assim sentada à noite na nave, e via o Universo inteiro à sua volta: “Haverá por aí alguém à escuta? Alguém que nos veja e que nos guie?


Miguel Sousa Tavares, in "O Planeta Branco"

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